domingo, 22 de maio de 2011

A maior aventura

Quando um ser de cinco anos nos diz que teve a maior aventura da sua vida, sabemos que acabamos de viver algo grandioso.
Hoje foi a vez do Miguel conhecer o parque do Ipupiara. Nossa pequena odisséia começou com uma proposta singela, totalmente despretensiosa: "vamos lá ver os peixinhos?". Após alguma hesitação, iniciamos nossa jornada.
No caminho, adverti o herói sobre os perigos que nos aguardavam:
- Lá tem um monstro.
- Um monstro? De verdade ou de estátua?
- Você vai descobrir quando chegar lá. Você tá com medo?
- Não sei.
- Você é corajoso. Acho que você vai conseguir enfrentar o monstro.
- De que cor ele é?
- Cinza. Ele tem uma cara horrível e um rabo de peixe. E ele vive na água.
- Lá também tem tubarão?
A aproximação aumentava a ansiedade. Estávamos na direção da fera. Só um monumento pintado de amarelo nos afastava. Com todo o medo de que era capaz, o herói finalmente encarou o monstro. E o medo se fez coragem, e a coragem se fez alívio - mas não diminuiu a excitação da empreitada.
Depois de superado o principal obstáculo, tudo poderia ser usufruído como se deve, tudo era objeto de prazer.
Os peixes. Peixinhos, peixões. Cinza, laranja, preto, laranja e preto, um único branco, inalcançável. O "sucesso" ao finalmente conquistá-los com biscoitos de polvilho. A coragem dos pequenos, o receio dos grandes.
- Viu que quando a gente se aproxima, os grandes saem correndo? Mas os pequenos não têm medo nenhum. É como você e eu. Sou maior que você, mas você é muito mais corajoso.
O parquinho. Escorregador, escorregadores. Gangorra - a baixa, a alta. O balanço e a aprendizagem de voar sozinho. A criança grande acompanhando a pequena em tudo, sob o olhar curioso de alguns pais.
- Será que vão brigar comigo porque eu sou grande?
- Não.
- Será que eu vou caber?
- Abaixa assim.
Os pés cheios de areia, a alma cheia.
A praça do leão. Hora de lavar os pés e conhecer os leões que dão água pela boca.
- O leão é de verdade?
- É.
Pés e almas lavados, a sede saciada da forma mais divertida.
- Essa água é super poderosa e vai te dar super poderes. Vai te dar a força e a coragem do leão.
O momento da anunciação, sorriso escancarado no rosto, misto de alegria e orgulho: "Nossa, vivi a maior aventura da minha vida". O orgulho e a alegria redobrados em mim, sorriso na alma.
Mais uma vez o parque, mais uma vez os peixes.
- Agora a gente não pode mais brincar no parquinho porque senão vai sujar tudo de novo e a gente vai ter que lavar tudo de novo.
- Verdade. Você quer ir ver os pescadores?
- Quero.
A atração das varas de pescar, a distância dos lançamentos, os gritos de admiração, os pedaços de peixe como isca, a simpatia dos pescadores, os peixes pescados - vários mortos, vivo um, morrendo aos poucos.
A determinação de completar a jornada.
- Vamos voltar?
- Não. A gente tem que ir até o final.
- Até a ponte?
- Até a ponte.
Missão completa, hora do retorno.
Durante o caminho de volta, o desafio agora era dele:
- Agora vamos brincar de super-herói?
Ele só não sabia que já era herói desde o início...
E esta é a maior aventura da minha vida: participar, como testemunha e coadjuvante, da evolução - que, na verdade, é manifestação, auto-revelação - de um ser, em toda a sua grandeza e seu mistério.

Um comentário:

Rosa Marques disse...

Os ditos pequenos em verdade sao grandes...
Os grandes em verdade sao tolos...
Porque perdem a capacidade de viver grandiosamente momentos como esses...