quinta-feira, 17 de maio de 2012

Histórias sobre família

Toda família tem sua história. Toda história tem seu valor. E tudo que tem valor deve ser preservado e respeitado. Respeito não significa aceitação incondicional e resignação pacífica. Respeito significa aceitar o que foi e melhorar o que não foi. Esse é o caminho do meio.

A tia Rose: ela é a mulher mais legal do mundo!!! Amo muito a mamãe, mas a tia Rose é minha companheira de bagunças favorita!!! Ela faz simples caixas de papelão se transformarem em naves espaciais e depois em parede de desenho e depois em palco pra teatro de bonequinhos feitos no dedo!!! Com ela, aprendi a levar o Frederico (o cachorrinho dela) pra passear, eu mesmo é que levo a guia nas mãos!!!  Com ela, brinco de pega-pega, de esconde-esconde, de tirar disquetes velhos da caixinha. Na hora do almoço é sempre ela que põe o alface no meu prato e finge que vai roubar minha comida só para eu comer tudinho! Eu finjo que fico bravo, que não vou deixá-la roubar nada e aceito mais uma colherada. Nossa relação é de puro fingimento – fingimos que somos atletas, astronautas, navegadores, pintores, cientistas, exploradores e até fingimos ser quem a gente é! Ela me leva a castelos, labirintos e sobe comigo em foguetes! Ah, e ela me dá um banho tão gostoso, faz massagem com creminho e me deixa tão cheiroso...

O tio Randal: ele é um homem alto, que me pega, me gira, me faz voar, às vezes até voo montado na bicicleta!!! Todo domingo ele vem aqui e traz o meu primo Miguel – que farra!!! Corremos, pulamos,  jogamos bola, fazemos guerra de bexigas, brincamos de espada, até tênis nós já jogamos!!!  Precisa ver como fico alegre!!! Só não pulo bem alto porque ainda não consigo! Às vezes ainda choro na hora de dividir os brinquedos, mas aos poucos começo a entender que brincar junto é melhor que não brincar sozinho. Precisa ver como estamos crescendo juntos! No dia das mães, tio Randal e eu fizemos uma surpresa para a mamãe: ele comprou flores cor de laranja, uma das cores favoritas da mamãe, e me deu para eu dar pra ela!!! Elas vinham numa caixa bonita e tinham um cartão com uma joaninha, onde estava escrito assim: “feliz dia das mães, do Marcéu para a mamãe”. Ela ficou tão feliz!!! Tio Randal também traz filmes e desenhos legais pra eu assistir e no meu aniversário foi ele que desenhou o painel do Kung-fu Panda e encheu as bexigas!!! E a tia Maria, que é a esposa do tio e mãe do Miguel, enchia balões e com eles fazia bichos, espadas, chapéus...  que divertido!!! Eu tive uma festa de aniversário muuuuuuuuuuuito divertida!!!

A vovó: a vovó é meu reservatório ambulante de mimos, doces e brincadeiras! Fica sempre falando pra mamãe: “posso dar uma bolachinha? Posso dar um pirulito? Põe açúcar no chá dele!” E mamãe sempre diz: “Não, não, não...”. Então às vezes ela faz algumas dessas coisas escondido da mamãe... hihihi... Vovó me ensinou o que é grande e o que é pequeno. Hoje eu olho uma árvore e digo: “grande, grande, grande...”. Vovó larga tudo que estiver fazendo pra ficar comigo! E juntos brincamos de dobrar papel, depois de rasgar papel, depois de embrulhar coisas com papel e depois de fazer bolas de papel e fazer gooool!!! Ela me deu uma mesinha e um sofá na minha medida, só pra mim!!! E ali brinco de rabiscar, desenhar, pintar, montar liglig, lego, girafas e elefantes. E até assisto desenhos no computador da minha tia! Ela só fica brava comigo quando começo a jogar todos os brinquedos  no chão e espalhar tudo pela sala. Aí, ela engrossa a voz e diz: “Não, assim não!” Ela também faz comidinhas gostosas, principalmente uma omelete, que eu adoro! Ela confia em mim e me dá leite para beber na xícara!!!  Às vezes ela me faz dormir cantando: “Alecrim, alecrim dourado, o Marcéu fecha os olhos porque está cansado”. Aha, te peguei, você achou que conhecia a música? Pois não poderia conhecer, porque essa foi feita especialmente para mim. Agora sim, você conhece!

Essas pessoas são parte das minhas origens.
Mesmo sem entender muita coisa, eu as reverencio.
Mesmo entendendo tudo, eu as respeito.
Com elas eu cresço.
E com elas aprendo que ninguém é perfeito e nem precisa ser.
Porque como diz o tio Stupa: “o importante não é ser perfeito, o importante é ser feliz”.

(Marcéu e Mamãe)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Onde Vivem os Monstros


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Assim começa Onde Vivem os Monstros, um dos mais conhecidos livros infantis de Maurice Sendak. O autor morreu nesta terça-feira, aos 83 anos. O coração, que, segundo ele, vivia na infância, parou.
A obra tornou-se um clássico da literatura infantil mundial e ganhou uma bela versão cinematográfica nas mãos de Spike Jonze (Quero ser John Malkovich, Adaptação).


Jonze, juntamente com Lance Bangs, também assina a direção de Tell Them Anything You Want: A Portrait of Maurice Sendak, documentário que conta a vida e obra do escritor e ilustrador.



“Tenho pensamentos e experiências de adulto na minha cabeça, mas nunca falarei sobre eles. Estarei preso na infância? Bom, acho que é lá que está o meu coração.” (Maurice Sendak)

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Vale a pena mencionar também a trilha sonora de Onde Vivem os Monstros, com músicas de Karen O. (Yeah, Yeah, Yeahs).

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Pearl Jam por Cameron Crowe

Em outubro de 1993, a capa da Rolling Stone trazia uma reportagem com o Pearl Jam, assinada por Cameron Crowe.  Em 2011, o diretor lança "Pearl Jam Twenty", documentário sobre a história dos 20 anos da banda.

Cinco contra o mundo
(Cameron Crowe)

Existem dois Eddie Vedders. Um é quieto, tímido, quase inaudível quando fala. Amando e sendo amado. O outro é torturado, um realista amargo, um homem capaz de apontar injustiça e agitar a guerra dentro do próprio país, dentro dele mesmo. Em um dia de primavera, quente e com vento, em San Rafael, Califórnia, é fácil ver qual Eddie Vedder está acertando cestas fora do Site, o estúdio de gravação onde o Pearl Jam está finalizando seu segundo álbum. É o Eddie torturado, aquele com um vinco profundo entre as sobrancelhas.
“Sua vez”, chama Jeff Ament, o baixista do grupo. Ele lança a bola para Vedder, que dá um longo salto. A bola retumba na cesta e rola para longe. Quando Ament recupera a bola, Vedder já desapareceu dentro do estúdio. Sua mente está numa nova música, “Rearviewmirror”. É o último dia de gravação no Site, e o destino da faixa está em perigo. É uma música sobre suicídio... mas é muito “contagiante”.

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Sentado num café no centro de Seattle, algumas semanas depois, Stone Gossard analisa a natureza inflamável da banda. "Acho que estamos indo bem", ele diz, no ritmo cortado de um atleta. "Acho que fizemos um grande álbum. Ninguém aqui está comprando limousines e se achando a melhor banda do mundo. Existe um equilíbrio natural na banda onde cada um precisa do outro. Cada um vê as coisas do seu próprio ângulo, e todos os ângulos são os arquétipos das coisas que você precisa para ter cobertura".
E ele conhece as críticas sobre o sucesso do Pearl Jam. "Se alguém quer dizer 'Vocês eram minha banda favorita, mas ficaram muito grande' - para mim, o problema em ficar muito grande não é, intrinsecamente, ficar muito grande e de repente parar de tocar música boa", diz Gossard. "O problema é que quando você fica muito grande, você para de fazer as coisas que costumava fazer. Apenas ser grande não significa que você não pode ir para o porão e escrever uma boa canção. Acho que as pessoas são capazes de ser bem maior numa escala radical". Ele ri. "Muitas pessoas por aí são capazes de ser grandes, mas não se dão a chance".

(...)
Até cerca de um mês antes do lançamento, o álbum ia se chamar Five Against One. O nome surge durante uma reunião num quarto de hotel em Roma, enquanto a banda aprova a mixagem final do disco. Já existem interferências da gravadora. Dá pra aumentar os vocais do Eddie? E tem a questão do vídeo. Podemos decidir sobre o diretor?  E as entrevistas para a impressa. Vocês precisam fazer algumas. As respostas para as perguntas são Na verdade não, Não e Depois. Decisões rodopiam em torno deles a toda hora, mas o Pearl Jam quer fazer do seu próprio jeito. O título do álbum parece apropriado. A frase surge de uma nova música, "Animal".
"Para mim, esse título representa muitas lutas que você enfrenta ao gravar um disco", diz Gossard, que escolheu a frase. "Sua própria independência - sua prória alma - contra todo o resto. Nessa banda, e eu acho que no rock em geral, a arte de se comprometer é quase tão importante quanto a arte da expressão individual. Você pode ter cinco grandes artistas na banda, mas se eles não podem se comprometer e trabalhar juntos, você não tem uma grande banda. Pode significar algo completamente diferente para o Eddie. Mas quando escuto aquela letra, faz muito sentido pra mim."


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E por falar em Rolling Stone e Cameron Crowe, não dá pra não lembrar de Quase Famosos, filme que conta a história do próprio diretor, quando, ainda adolescente, começou a escrever para a revista.