segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Saudades da Tarrafa

Cinco dias de discussões literárias. Autores nacionais e internacionais dividindo mesas e a atenção do público. Em sua segunda edição, a Tarrafa Literária vai se consolidando como um dos principais eventos culturais de Santos.
Mas não vou reproduzir aqui a cobertura jornalística do festival. Na verdade, este é o texto de alguém que já sente saudade de algo que acabou de acabar e procura apenas reter o que fica quando a Tarrafa termina.
Antes de mais nada, fica o choque da volta à realidade. Passar alguns dias ouvindo pessoas criativas e interessantes falar de seus trabalhos igualmente criativos e interessantes com tanta naturalidade e, ao mesmo tempo, despretensão, é capaz de nos transportar para uma espécie de paraíso de ideias novas. Saímos do lugar-comum, em mais de um sentido. Voltar para a nossa pequena vida diária nos faz questionar se o que estamos fazendo é realmente o melhor de nós mesmos e cria em nós o desejo brutal de sair das nossas zonas de conforto, ou conformismo, e superar a própria mediocridade.
Fica o vestígio do contato com ideias e pessoas incríveis. Prosaicas até, de tão humanas, e por isso mesmo, deliciosas. Como o gosto de Zuenir Ventura por meias coloridas e os dois beijinhos cariocas. A timidez de Luís Fernando Veríssimo e os seus textos que não são seus. As confissões dolorosas e engraçadas de Cintia Moscovich. A história do sagüi da infância de Maria Valéria Rezende. O humor e a sinceridade escrachada de Angeli ("Tem horas que eu me arrasto na incompetência") e Allan Sieber ("Na vida real, eu sou um merda. A minha resposta, eu dou nos quadrinhos"). O professor André Rittes, superstar. A mãe do Celso de Campos Jr. garantindo a fonte e a vida do Guilherme Fiuza desmoronando em meio a um trabalho. A confusão da Nina Horta com a tradução inglês-português, sua aversão à relação sensual com a comida, a naturalidade com que disse que nunca havia falado em público antes, a defesa da simplicidade. E a expressão extasiada do Mark Crick ouvindo a Nina falar. Jeremy Mercer e a graça com a abobrinha e as imagens de flores, Zeca Baleiro e a graça com a abobrinha e as florzinhas, e a risada contagiante de Matthew Shirts.
Ficam os encontros, as conversas de corredor. As aventuras e a cumplicidade com a Juliana, nós duas divididas entre a diversão e a obrigação (mas como é mesmo que se faz uma matéria de tv?). Nossa saudade antecipada.
Fica a espera pela próxima Tarrafa Literária.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Comer, rezar, amar

Sim, é um best-seller. Não, não tem nenhuma complexidade literária.
É apenas a história da jornalista Elizabeth Gilbert que, recém-divorciada e em crise existencial, decide passar uns tempos viajando pela Itália, Índia e Indonésia.
Em cada um destes destinos, uma aprendizagem: o prazer por meio da comida, a devoção, o amor.
O que era para ser trivial e simplista consegue se tornar interessante. A busca de si mesma como descoberta de Deus. Ou a busca de Deus e a descoberta de si mesma.

A maioria de nós, mesmo que apenas por dois minutos de nossas vidas, vivenciou em algum momento uma sensação inexplicável e completa de total contentamento, em nada relacionada ao que acontecia no mundo externo. Em um instante, você é apenas uma pessoa normal, arrastando-se por sua vida mundana, e então, de repente — o que é isso? — nada mudou, e, no entanto, você se sente tocado pela graça, inflado de assombro, transbordante de felicidade. Tudo - absolutamente sem nenhum motivo — está perfeito. É claro que, para a maioria de nós, esse estado passa com a mesma rapidez com que chegou. É quase como se lhe mostrassem sua perfeição interior para provocá-lo, e em seguida você cai de volta na "realidade" muito depressa, desabando encolhido outra vez por cima de todas as suas antigas preocupações e desejos. Ao longo dos séculos, as pessoas tentaram se agarrar a esse estado de perfeição e contentamento por meio de todo tipo de recurso externo - drogas, sexo, poder, adrenalina, acúmulo de coisas sem importância -, mas ele não se mantém. Nós buscamos a felicidade por toda parte, mas somos como o mendigo da fábula de Tolstoi, que passou a vida sentado em cima de um pote de dinheiro, mendigando centavos de todos os passantes, sem saber que sua fortuna estava bem debaixo dele o tempo todo. O seu tesouro - a sua perfeição - já está dentro de você. Porém, para acessá-lo, você precisa deixar para trás o frenesi da mente e abandonar os desejos do ego, e adentrar o silêncio do coração.

(Essa passagem pode fazer parecer se tratar de um livro de auto-ajuda, mas na verdade, está mais ligado às tradições orientais de reconhecer a divindade do Ser em cada ser)

O filme estrelado por Julia Roberts também promete.



Eddie Vedder, sempre garantindo belas trilhas sonoras.



Better Days
(Eddie Vedder)

I feel part of the universe
open up to meet me
my emotion so submerged
broken down to kneeling
what's listening?
voices they care
had to somehow greet myself
greet myself
heard vibrations within my cells
in my cells
singin' laaa
my love is saved for the universe
see me now I'm bursting
on one planet so many turns
different worlds
singin' haaa
fill my heart with discipline
put there for the teaching
in my head see clouds of stairs
help me as I'm reaching
the future's paved with better days
night runnin' from something
I'm running towards the day wide awake
all whispered once quiet
now rising to a scream right in me
I'm fallin'
free fallin'
world's calling me up off my knees
oh, I'm soaring
yeah, and darling
you'll be the one that I can need and still be free
our future's paved with better days