sábado, 31 de janeiro de 2009

Uma paixão a mais

Pão e circo. Distração para as massas. Quando considerados apenas do ponto de vista da lógica do entretenimento (ou seja, do mercado), os esportes são compreendidos como mero instrumento de manipulação e mais uma peça na engrenagem vertiginosa do consumo, em que atletas se tornam marcas tão vendáveis quanto as camisas que vestem e torcedores são obrigados a se atualizar a cada seis meses com novos modelos de uniforme do seu time favorito.
No entanto, dentro da mesma lógica do entretenimento - ou, talvez, por isso mesmo - é impossível negar todo o apelo exercido pelos esportes, assim como suas promessas, quase sempre cumpridas, de diversão. Jogo de futebol, seja em estádio, televisão ou campinho de terra batida, sempre atrai seus seguidores. Esportes nacionais, Olimpíadas, Copa do Mundo - eventos que movimentam quantias absurdas de dinheiro e... divertem.
Será que o esporte pode ser apenas resumido à relação mercadológica e política de domínio e alienação? Entre a massa indistinta de consumidores de esportes, existem pessoas que pensam, agem e sentem e que, por motivos não tão redutíveis ou fáceis de se explicar, têm aquilo que se costuma chamar paixão por esportes. Sou uma delas.
Ontem, percebi isso de modo mais nítido do que a minha consciência já permitia. Assistindo à semifinal do Aberto de Tênis da Austrália, disputada entre os espanhóis Rafael Nadal e Fernando Verdasco, pude perceber, quase intuitivamente, o que realmente faz o mundo girar. Excetuando-se as leis da física, claro. O jogo, considerado um dos maiores duelos dos últimos tempos, durou mais de cinco horas, mostrando, no limite do limite, as exigências técnicas e psicológicas de um esporte fascinante. Dentro da quadra, não víamos marcas, contratos ou patrocinadores. Víamos apenas dois homens lutando com o melhor e o pior de si mesmos.
O que me leva à minha recém-descoberta paixão por futebol americano. Alguns momentos furtados entre o zapping costumeiro de canais e pronto. Sedução total. Gladiadores debatendo-se em campo, materializando jogadas altamente pensadas e que, ao mesmo tempo, lembram brincadeira de criança. Um jogo em que ataque e defesa, simetricamente equivalentes, criam um dos balés mais violentos e mais belos de se assistir.
O mundo pode ser, de fato, apenas a grande selva capitalista. Mas as pessoas ainda são feitas de carne, osso e coração. E talvez esse tipo de lógica, da qual o esporte faz parte e é expressão, não seja compreensível às mentes puramente cartesianas. Visão ingênua ou romântica demais? Talvez seja apenas paixão...

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Amanhã, a final do Aberto da Autrália entre Nadal e Roger Federer (o ídolo!) e o Super Bowl (a grande final entre Arizona Cardinals e Pittsburgh Steelers, com direito a show de Bruce Springsteen no intervalo!!!) reservam ainda mais emoções.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Sobre morcergos e borboletas

Outro dia, tive uma lição valiosa sobre a "realidade", ou, como vulgarmente se costuma chamar, "a vida como ela é". A discussão, já bem batida, teve um diferencial (para usar um dos termos do meu opositor) interessante: foi a primeira vez que encontrei um defensor apaixonado do sistema capitalista. Sua paixão por toda a insanidade da "gestão corporativa", se justifica em grande medida por sua profissão. A lógica dos argumentos chega até a fascinar, pela lógica em si, como se falássemos em estratégias do jogo War. É o "mundo real", ele dizia. O mundo em que, como descreveu Maquiavel, os fins justificam os meios. E completou a discussão com uma analogia didática: no mundo, existem dois tipos de pessoas: as borboletas e os morcegos. Fora a tentativa de simplificar de tal maneira a vida, a divisão entre presa e predador sintetiza bem a visão competitiva e altamente agressiva defendida e valorizada por um sistema que não tem nada de bonito (para não dizer justo...).
Mas a grande lição da discussão foi o contato com uma perspectiva totalmente inusitada e contrária à minha, o que mostra que, para além de borboletas e morcegos, a vida pode ser bem mais interessante pela infinita pluralidade que apresenta.