domingo, 14 de agosto de 2011

Meia-noite em Paris

Nostalgia. Aquilo que nos faz sentir que um tempo passado - ou um momento no passado - era melhor do que o presente. Idealização daquilo que se viveu combinada com a saudade do que não se viveu. Pode se tornar inspiração ou escapismo. Nas mãos de Woody Allen, nostalgia se transforma em viagem poética no tempo.
Gil Pender, um medíocre roteirista de cinema que visita Paris com os sogros e a noiva um tanto superficial, sonha em viver em Paris e terminar seu romance. Certa noite, recebe um carona de Zelda e Scott Fitzgerald e é transportado para a Paris dos anos 20, idealizada por ele como a verdadeira época de ouro. A partir de então, passa a se encontrar com os nomes que povoaram a vida artística e literária da cidade: Cole Porter, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dalí, T.S. Eliot, Djuna Barnes, Josephine Baker, Man Ray, Luis Buñuel. Um desfile de encontros memoráveis e deliciosos, que confirmam que Paris é, realmente, uma festa.
Pender acaba se apaixonando por Adriana, símbolo da musa, amante de Picasso. Ela diz também ter sido amante de Modigliani e Braque. "Você elevou a categoria de groupie a um outro nível!" é a resposta de Pender, num dos divertidos anacronismos do filme.
A nostalgia e o amor por Adriana de um lado, a superação da "síndrome da época de ouro", do outro. Faz lembrar a frase de Randall Jarrell: "Pessoas que vivem numa era de ouro costumam reclamar que tudo é amarelo."
Apesar de medíocre (como ele mesmo se define), Pender é "despretensioso e ingênuo", e, em sua confusão entre passado e presente, a busca por se tornar um escritor melhor acaba transformando o que era conformismo e covardia em necessidade de começar a viver a partir de suas próprias verdades e sonhos.

"Todos os homens temem a morte. É um medo natural que nos consome a todos. Nós tememos a morte porque sentimos que não amamos o suficiente ou não amamos de modo algum, o que no fundo é a mesma coisa. Porém, quando você faz amor com uma grande mulher, uma que merece o maior respeito do mundo e que faz você se sentir verdadeiramente poderoso, o medo da morte desaparece completamente. Porque quando você divide seu corpo e seu coração com uma grande mulher, o mundo desaparece. Vocês dois são os únicos no universo inteiro. Você conquista o que o mais inferior dos homens jamais conquistou, você conquista o coração de uma grande mulher, a coisa mais vulnerável que ela pode oferecer a alguém. A morte não passa mais pela mente. O medo não mais encobre seu coração. Apenas a paixão pela vida e pelo amor se torna sua única realidade. Essa não é uma tarefa fácil porque exige uma imensa coragem. Mas lembre disso, no momento em que você fizer amor com uma mulher de verdadeira grandeza, você se sentirá imortal." (Uma das incríveis citações de Hemingway)


2 comentários:

Samantha Valdívia disse...

Aii.. me deu vontade de ver o filme ;)

Juber Alves Baesso disse...

Hemingway, o inspirado autor de “O velho e o mar", nesta citação, coloca-se de fora do foco de suas próprias conclusões (refere-se sempre ao outro e não a si mesmo ou a si também). Quanto à definição de nostaugia temos uma hipótese crível; quanto ao dividir “seu corpo e seu coração com uma grande mulher” e o restante da citação, parece-me que o autor estava sob a influência de poderoso estado nostáugico quando construiu o texto.

De minha parte, não posso dizer que uma grande mulher seja aquela que outros possam classificar ou qualificar como tal. Uma grande mulher é tao-somente aquela com quem o homem a ela se sente amalgamado.