segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os frágeis rostos da identidade

"A noção de 'pessoa' inclui a imagem que temos de nós mesmos. A ideia da nossa identidade, da nossa posição na vida, se encontra ancorada na mente e influi de forma constante nas nossas relações com os outros. Quando uma conversa toma um mau caminho, não é tanto o tema da conversa o que nos incomoda, mas o questionamento da nossa identidade. Qualquer palavra que ameaça a imagem que temos de nós mesmos se torna insuportável, enquanto o mesmo qualificativo aplicado a outro, em circunstâncias diferentes, apenas nos afeta. Se alguém tem uma imagem forte de si mesmo, tentará constantemente assegurar-se de que seja reconhecida e aceita. Não há nada mais doloroso do que vê-la colocada em dúvida.
Mas que valor tem esta identidade? É interessante lembrar que 'personalidade' vem de persona, que em latim significa 'máscara'. A máscara 'através' da qual o ator faz 'ressoar' (sonat) seu papel. Enquanto o ator sabe que leva uma máscara, com frequência esquecemos de distinguir entre o papel que representamos na sociedade e nossa natureza profunda.
(...) Normalmente, tememos abordar o mundo sem referências e nos dá vertigem quando chega o momento em que caem as máscaras e os qualificativos: se já não sou músico, escritor, funcionário, culto, bonito ou forte, quem sou? No entanto, não levar nenhuma etiqueta é a melhor garantia de liberdade e a maneira mais flexível, leve e alegre de passar pelo mundo."

(Em defesa da felicidadeMatthieu Ricard)

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