terça-feira, 8 de abril de 2008

Acordar

Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...

Trecho do poema "Acordar", de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

3 comentários:

Rafaelle Donzalisky disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafaelle Donzalisky disse...

"pertenço a tudo para pertencer mais a mim próprio"

obrigada pelo presente, Rose! são esses pedaços de tudo que me fazem ser mais quem eu sou.

sou muito grata por ter sua amizade :))

beijão!

Rose Marques disse...

Que bom que você gostou!
Vi esse poema e achei a sua cara! : )
Também agradeço todos os dias por ter uma pessoa como você na minha vida!
Beijo!