quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Filosofia de banheiro

"O banheiro é um lugar dedicado ao corpo, em sua mais natural condição. Através da produção de grafitos, serve à comunicação humana como um canal de expressão escrita disponível a todos, um meio ao monopólio dos superveículos massificadores. Sem limite de censura externa e acessível a todos, torna-se um palco discreto de confidências." (Grafiteiros de Banheiro, G. Barbosa)

Tudo bem... nos banheiros da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP) tem muitas coisas pesadas e escatológicas (mas mesmo assim, algumas muito engraçacadas e criativas por sinal...). Mas também tem coisas interessantes e até filosóficas, do tipo:

"Deus está morto - Nietzsche"
Resposta:"Nietzsche está morto - Deus" (banheiro da geografia)

Tese: A burguesia fede.
Antítese: Mas tem dinheiro para comprar perfume.

Lingüísticas também:

"o futuro do pretérito a deus pertenceria" (banheiro da letras)

"A porta de um dos banheiros femininos da sociais traz um debate sobre palavras 'pré cambrianas' - signifique isso o que for... alguma moça pediu, num recado, que parassem de escrever 'chulices', e outra replicou dizendo que a palavra estava na era pré-cambriana... Por fim, alguém escreveu que não existem palavras em tal era, apenas animais que desenham na porta do banheiro..."

E pra ridicularizar a própria verborragia filosofante:

"O homem é o único animal capaz de se desumanizar."
E logo abaixo: "O elefante é o único animal capaz de se deselefantizar!"

Uma vez quando limparam o banheiro teve um cara que escreveu: "inicia-se agora uma nova era de pensamentos e reflexões"

E viva o vandalismo cultural!

E pra não perder o pique, vamos de Poética com Manuel Bandeira (será que ele escreveria - escreveu? - em portas de banheiro?)


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.



Pra quem quiser se divertir ou se instruir um pouco (tudo é uma questão de perspectiva...), aqui está um tópico da comunidade da FFLCH no orkut dedicado ao tema:
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=25982&tid=432064&na=1&nst=1

E mais: uma tese analisando o discurso dos banheiros:
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/a00009.htm

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