sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nada dizia e não pensava. Uma sequência de pensamentos, de ideias, de evidências voava em liberdade, atravessava-a como nuvens no céu, como outrora, nas suas conversações noturnas. Era justamente isto que outrora lhe trazia a felicidade e a liberdade. Um conhecimento ardente que não vinha da inteligência e que eles inculcavam um ao outro. Instintivo, direto.
(...) Que amor tinham eles conhecido, livre, raro, incomparável! Entendiam-se como outros cantam. Amaram-se, não porque não podiam agir de outro modo, não porque estivessem "abrasados pela paixão", como se diz, pintando falsamente o amor. Amavam-se porque tudo em redor deles o queria: a terra sob seus pés, o céu por cima de suas cabeças, as nuvens, as árvores.
(...) Era isso o essencial, era isso que os aproximava e os unia. Jamais, mesmo na felicidade mais generosa, mais louca, jamais tinham esquecido seu mais alto, seu mais comovente sentimento: o sentimento bem-aventurado de que ajudavam também eles a plasmar a beleza do mundo, que tinham uma relação profunda com o conjunto, com toda a beleza, com o universo inteiro.

(Doutor Jivago, Boris Pasternak)

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