quinta-feira, 22 de julho de 2010

A queda

Hoje fiz a coisa mais patética da minha vida. Já fiz muitas coisas patéticas, mas acho que consegui me superar. Caí de bicicleta! Ainda não sei exatamente como, mas do que eu consegui racionalizar da situação, resvalei numa tartaruga, escorreguei e caí. Feio! Provalmente, este foi o tombo mais idiota da história dos tombos. Uma pessoa sozinha, completamente sozinha, atropelar uma tartaruga e cair no meio da rua. Sorte não estar passando nenhum carro.
Uma cena de comédia pastelão materializada em plena avenida da praia! Para minha surpresa, não fiquei com vergonha. Sempre pensei que o pior das quedas é a vergonha de cair, mas a sensação foi de raiva misturada com um ímpeto de auto-superação. Devo ter acompanhado demais o Tour de France - que sempre tem aquelas cenas incríveis de acidente, e os ciclistas sempre continuam -, porque ainda no chão, só conseguia pensar "levanta e anda!". E foi o que eu fiz. Ainda na esquina de casa, poderia ter voltado. Mas não. Segui meu caminho. Ao dar as primeiras pedaladas, senti muita dor e pensei que o negócio poderia ser feio, e por um breve instante, me deu uma vontade infantil de chorar. Passou logo.
De repente, a única coisa verdadeira que eu sentia era dor. Não tinha mais raiva, nem auto-piedade nem necessidade de consolo. Não precisava correr para alguém para mostrar os machucados, fazer beicinho e pedir pra assoprarem na hora do methiolate. Apenas eu e minha dor. E pode parecer loucura, mas isso me fez um bem enorme. Reconheci concretamente a minha capacidade de cair e levantar!
Ao chegar ao meu destino, avaliei as consequências do meu momento de epifania. Os dois joelhos esfolados e muito machucados. E dor, muita dor. Como um tombo tão besta foi capaz de fazer um estrago tão grande?
Na hora do banho, mais dor, e finalmente dei o braço a torcer, admitindo que a revelação poderia ter vindo de uma forma mais branda. Mas mesmo agora, com a dor intensificada e as articulações comprometidas, valorizo a experiência e relembro a passagem de Grande Sertão: Veredas, que eu repetia como um mantra durante todo o trajeto, com um sorriso no rosto e um certo orgulho:

"Todo caminho da gente é resvaloso. Mas, também, cair não prejudica demais - a gente levanta, a gente sobe, a gente volta!"

Um comentário:

Ivan disse...

QUE TEXTO DEMAIS!

adoro textos assim, que fazem de acontecimentos do dia-a-dia coisas pra se pensar.

sei que deve ter doído, mas espero que você caia mais vezes pra eu poder ler mais textos seus assim, HAHAHA.

lindo lindo lindo. MESMO.
cair e levantar, é a vida.
cair de bicicleta machuca a perna. mas na vida, o cair é muito mais doloroso, e temos que levantar antes que outro tropeço nos leve ao fundo do poço.

pronto, brisei demais, tô siando, tchau, HAHA!