sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Itinerário (ou a crônica de um dia perfeito)

Estamos na Luz. Lu e eu. Luz. Algo bom de se dizer. É metrô, é trem, é pinacoteca, é estado de espírito. Início de jornada. O descuido na rua e a bronca carinhosa. Primeiros sinais de uma gentileza inesperada. Cedo demais. Os caminhos sem mapa. O arco-íris de concreto ao longe. Longe? Perto. A conspiração do universo. A intuição dos passos. A supresa em cada esquina. O pensamento e o desejo mais rápidos que a imagem que surgia como mágica. Edifício Martinelli. O outro também. Sol chuvoso. Avenida Júlio Prestes. Avenida Ipiranga! Cadê a São João? A vida vivida como música. Santa Ifigênia: a rua, o largo, a igreja. Viaduto do Chá e a pureza contagiante do ar impuro de São Paulo. Mosteiro de São Bento. A lição do silêncio e dos vitrais. Cachoeira de luz. As fotos proibidas. A tempo. O café Girondino. 25 de março: uma data, uma rua, uma festa. Carinho na cabeça ao virar a esquina. Arrepio de pele. Lojas árabes. Bolsas árabes, pulseiras árabes, doces árabes. Enfeites de Natal e a caixinha de música descoberta sem querer. Mercado Municipal. O templo. Simpatia em cada barraca. Banquete de cores, de cheiros, desejos. A sardela italiana, o queijo brasileiro. Damasco com chocolate. Salada de fruta. Pão com mortadela e a descoberta de si mesmo. Pessoas. Mais simpatia, mais gentileza. Avenida Senador Queirós. Bolo de goiaba. Chuva ensolarada. Caminho de volta. Luz mais perto ainda. Sala São Paulo. Os mistérios do som, os segredos da música. Museu da Resistência. DOI-CODI. História na parede de celas. Universidade Livre de Música. Corredores musicais. A música da janela. O céu de papel crepom. Museu da Língua Portuguesa. Machado de Assis. Paredes de luz e som. A palavra comunicar no jogo do labirinto. A surpresa por trás da tela de cinema. As palavras eram mar. As palavras choviam belezas no escuro, e a gente embaixo se molhando. O piano na estação Júlio Prestes. "Toque-me. Sou todo seu". Toco. A brincadeira em dedilhado, o jazzinho infantil arranhado. Volta pelo metrô. A rememoração do dia que ainda não terminou. Muitos risos. As histórias acompanhadas por um livro de fachada. "Onde estamos? Quem somos nós?", "Ana Rosa", entregou-se o livro. Fim de linha. Destino: a praia. Mais histórias e mais risos. Amanteigados e biscoitos de leite. A serra. O verde e a lembrança de verde.
A Lu dormindo. O céu em cor-de-rosa encerrando o dia. A paisagem familiar. Canal 1. O bafo quente de Santos. Fim de jornada. A plenitude à exaustão. Pés cansados, mas felizes.

Um comentário:

Rosa Marques disse...

Vou ter que plagiar Tom, não vai ter jeito! Ao terminar de ler seu texto, a canção que veio em minha mente foi:

"Olha que coisa mais linda
mais cheia de graça
é ela menina que vem e que passa
num doce balanço a caminho do mar"

Linda menina cheia de graça, como é belo o teu despertar a caminho do mar, o teu balançar na rede da vida...