Sendo a alma criada com inclinação para o amor, corre ao encontro de tudo que lhe acene alegrias, se em nome do amor nessa direção for convocada. Para que o instinto do amor se transforme em ato de amor, o teu entendimento recolhe imagens que, desenvolvidas no íntimo, atraem outras almas. E quando elas se entregam, essa entrega é o amor, é a própria natureza que, pelo liame do prazer amoroso, de novo se funde com o homem. E qual chama que busca elevar-se, em virtude de sua forma que para o alto sempre tende, em direitura do centro onde sua remota origem ainda arde; é pelo desejo que a alma se incendeia, num impulso espiritual que não aplaca enquanto do objeto amado não consegue a posse ambicionada.
(...) Ora, esta primeira tendência - a de querer amar - não acarreta nem louvores nem admoestações.
Mas precisamente para que, em torno e em sequência deste primeiro querer, se acrisolem altos objetivos é que a razão é inata em nós, incumbindo-lhe a vigilância da porta pela qual entram as paixões na alma.
(A Divina Comédia, Dante Alighieri)
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