- Em um monte de coisas.
- Tudo bem.
- Tudo bem o quê?
- Tudo bem, que coisas?
- Eu acredito em coisas.
- Dá um exemplo.
- Hum, coisas culturais, por exemplo. Livros, música, arte, coisas assim.
- Tudo bem.
- Essas são as coisas que têm valor pra mim. São as bases da civilização. Bom, costumavam ter valor pra mim. Elas não têm mais tanto valor, eu acho.
- O que aconteceu com elas?
- As pessoas pararam de valorizá-las. Eu parei de valorizá-las, até certo ponto. Não tenho certeza se posso dizer por quê. O mundo, em grande parte, já se foi. Em breve, terá desaparecido.
- Não tenho certeza se estou te entendendo, professor.
- Não há nada pra entender. Está tudo bem. As coisas que amei eram muito frágeis, muito frágeis. Eu não sabia disso. Pensei que fossem indestrutíveis. Elas não eram.
- E foi isso que te mandou pra borda da plataforma? Não foi nada pessoal?
- Ah, é pessoal. Isso é o que a educação faz. Torna o mundo pessoal.
- Bem, essas são palavras muito poderosas, professor. E não posso dizer que eu tenho uma resposta pra nada disso. E é possível que não haja nenhuma resposta. Mas, mesmo assim, tenho que perguntar: qual é a utilidade de ter noções como essas se elas não vão te manter colado na plataforma quando o Sunset Limited vier a 130 Km/h?
- Boa pergunta.
*
Um apartamento. Dois homens. Um crente e um intelectual suicida. O filme: um longo e instigante diálogo sobre a vida, a morte, Deus.
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