(...) o amor é desejo de completude e assim responde a
uma necessidade profunda dos homens. (Octavio Paz)
Neste belíssimo ensaio, Octavio Paz passeia pela história literária e filosófica do amor e do erotismo - ambos construções, criações humanas a partir da sexualidade animal -, desde a Antiguidade até os dias de hoje, passando, entre outros, por Platão, o amor cortês, Marquês de Sade e o surrealismo de André Breton.
Além do fio histórico do amor, e atadas a ele, o escritor apresenta reflexões agudas e, ao mesmo tempo, apaixonadas, sobre o conceito e o sentimento amoroso.
O ponto de partida é a metáfora da chama: "Segundo o Dicionário de Autoridades, a chama é 'a parte mais sutil do fogo, que se eleva e levanta ao alto na figura piramidal'. O fogo original e primordial, a sexualidade, levanta a chama vermelha do erotismo e esta, por sua vez, sustenta e alça outra chama, azul e trêmula: a do amor. Erotismo e amor: a chama dupla da vida".
O amor humano, quer dizer, o verdadeiro amor, não nega o corpo nem o mundo. Também não deseja outro mundo nem se vê como um trânsito em direção a uma eternidade além da mudança e do tempo. O amor é amor não a este mundo, mas deste mundo; está atado à terra pela força de gravidade do corpo, que é prazer e morte. Sem alma - ou como quiserem chamar esse sopro que faz de cada homem e de cada mulher uma pessoa - não há amor, mas também não há amor sem corpo. Pelo corpo, o amor é erotismo e assim se comunica com as forças mais vastas e ocultas da vida. Ambos, o amor e o erotismo - chama dupla - se alimentam do fogo original: a sexualidade.
As características que definem o amor revelam sua natureza contraditória, paradoxal ou misteriosa: a exclusividade (por que amamos esta pessoa e não outra?); apetite de posse e desejo de entrega; obstáculo e transgressão; domínio e submissão; a união de contrários: corpo e alma; fatalidade (destino) e liberdade (escolha).
O amor é composto de contrários que não podem se separar e que vivem sem cessar em luta e reunião com eles mesmos e com os outros. Estes contrários, como se fossem dois planetas do estranho sistema solar das paixões, giram em torno de um único sol. Este sol também é duplo: o casal. Contínua transmutação de cada elemento: a liberdade escolhe a servidão, a fatalidade se transforma em eleição voluntária, a alma é corpo e o corpo é alma. Amamos a um ser mortal como se fosse imortal. (...) Mas o amor é uma das respostas que o homem inventou para olhar a morte de frente. Por causa do amor, roubamos ao tempo que nos mata algumas horas que transformamos às vezes em paraíso e outras em inferno. De ambas maneiras, o tempo se distende e deixa de ser uma medida. Muito além de felicidade ou infelicidade, embora seja as duas coisas, o amor é intensidade: não nos presenteia a eternidade, mas a vivacidade, esse minuto em que se entreabrem as portas do tempo e do espaço: aqui é lá e agora é sempre. No amor, tudo é dois e tudo tende a ser um.
2 comentários:
O amor é um eterno esperar por algo que nos complete...sem saber que a nossa felicidade não é responsabilidade do outro, é sofrer e sofrer...
Muito bom este txt, muitas reflexões aqui comigo. Tchau!
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