Experiência da professora de yoga Nicole Rodrigues, em um retiro Zen Budista
Não foram 4 dias maravilhosos. Não foram. Foram dias áridos, secos e de muitos, mas muitos mesmo, diálogos internos. Eu comi o pão que Buda amassou.No Zen Budismo não se faz meditação. Se faz zazen. Zazen, literalmente, significa sentar Zen.
(...) A nossa mente é uma coisa. Tão complexa, tão intrincada, que será eternamente objeto de estudo da ciência. Somos seres condicionados. Desde sempre condicionados. Viciados em pensar. Viciados em pensamentos dicotômicos. Isso é feio, isso é bonito, ela é inteligente, ela é burra, ele é gordo, ele é magro, estou triste, estou alegre, minha vida é boa, minha vida é ruim, eu queria ser assim, mas eu não sou assim, eu queria que minha vida fosse assim, eu queria que minha vida fosse assado, a escola dela tem mais alunos que a minha, portanto a escola dela é melhor que a minha, ela sabe isso, ela sabe aquilo, eu não sei isso, eu não sei aquilo, eu sou virginiana, ela é sagitariana, virginiano é uma mala sem alça, sagitariano é tudo de bom, meu emprego tá ruim, meu emprego tá bom, hoje tá frio, hoje está quente, meu zazen tá ruim, meu zazen tá bom, estou com pouco dinheiro, estou com muito dinheiro, se eu tivesse feito isso eu teria mudado minha vida, se eu tivesse falado aquilo naquela hora, se isso, se aquilo, se não isso, se não aquilo se se se se se sesesesesese blá blá blá aaahhh. É uma forma de pensar exaustiva. Somos grandes auto-sabotadores. Todos os três dias de retiro eu pensei: "Hoje eu vou embora. Vou dizer para Sensei que minha mãe ligou ou dizer que aconteceu um imprevisto e terei que sair antes, isso, aconteceu um imprevisto é uma excelente frase, sem explicações, simplesmente um imprevisto, ok".
(...) Mais um zazen, ô parede IN-SU-POR-TÁ-VEL. Blá blá blá blá blááá. Sino, please. Sinooooo. Buda, você me paga, te pego lá fora. Ardilosa, a mente tentava de todo jeito se manter no comando como ela sempre fez, falando, falando, falaaaando. Ai, estou com vontade de gritar, de chorar, quero mexer minha perna, ai minhas costas, maldita dor no meio das costas. Ainda faltam dois dias. Caramba, dois dias. O que significa mais 25 zazens, contando com as que restam hoje. Om om om, blá blá blá. Toca o sino, que inferno.
(...) Quarto dia. Algo aconteceu. Eu pensei tanto, mas tanto, que acho que esgotei todos, quer dizer, quase todos, os pensamentos. Primeiro zazen do dia...aaahhhhh, que maravilha. Mente quieta, coluna ereta, o coração tranquilo. Oi, parede. Te amo! Buda, você é tudo.
Aiai silencio ........................................... nossa, mas se eu não pensar, vou fazer o que então? Quase não estou pensando, mas se eu não pensar vou ser o quê, vou fazer o quê? "Abra mão dos pensamentos". Nenhum om sequer. Nada...ai que gostoso ........................................ é isso, é isso! Simplesmente Ser, estar, sem julgar, sem comparar, sem questionar, sem objeto de concentração, sem me sabotar, sem me culpar, sem achar que sou isso ou sou aquilo ........................................ Segundo zazen: aiai ........................................... Terceiro e último zazen do retiro: .............................................. que maravilha, que retiro maravilhoso, por que a gente sofre tanto com os nossos pensamentos? Para onde eles nos levam, o que conseguimos pensando tanto, para quê? Por que nos identificamos tanto com os nossos pensamentos? Por que não conseguimos simplesmente Ser?
(...) Agora é que vem o grande desafio. Cultivar o zazen sozinha, sem a sangha (comunidade), sem o grupo. Sentar. Ser. Simplesmente sentar e Ser. Um pouco todo dia, um sadhana, uma prática. Só sentar. De frente para a parede. Simples assim, difícil assim. Transformador assim.
(Veja o texto completo aqui)
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