Já inventei muitos amores. E sofri desilusões imaginárias. No jogo do gostar, respondia indiferente “eu também” ao “estou com saudade” alheio. Estava? Não estava. Mas a retórica do jogo exigia cumplicidade. E eu dava. A presença da voz ao telefone ao alcance da mão e a conversa miúda tinham ares de amor. Engano. O vazio-tédio das relações sem-sentido era maior que qualquer sentido falso que eu pudesse lhe dar. O fogo inventado ardia, mas era só exasperação. A invenção finalmente ruía e eu chorava uma dor real.
Liberta de mim mesma, aprendi.
Hoje não invento nada. Olho o sapo e vejo sapo mesmo. Também não me vejo como princesa. E não peço por contos de fada que não podem me dar. Contos de fada que eu nem mesmo queria. Não quero. Não quero invenção alguma. Não quero interpretar palavras que possam falar de amor. Quero a sinceridade do sentir, mesmo que seja sentir nada. Que me falem a palavra exata e me dêem o gesto sincero, pois vou aceitar palavra e gesto e nada mais.
Hoje tenho a paciência de um ancião e a alegria de uma criança que acabou de descobrir que brincar sem faz-de-conta é mais divertido. Quero a intensidade do instante e a calma queimando em fogo lento. Até que o real aconteça.
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