Indústria cultural é o sistema produtivo presente em todas as sociedades industrializadas modernas que, seguindo o modelo industrial de produção, transforma os elementos da cultura em produtos, procurando gerar produção em larga escala para o maior número de pessoas possível. Caracteriza-se, portanto, pela massificação e padronização dos bens culturais (dando origem, assim, à cultura de massa) e pela criação e, de certa forma, imposição de valores que estimulam o consumo. O consumismo, por sua vez, torna-se um valor em si, que passa a guiar e dar um sentido à vida das pessoas: a posse como valor existencial máximo, em que o ser é substituído pelo ter.
A indústria cultural, assim definida, embora tenha sido impulsionada pela Revolução Industrial no século XIX, consolidou-se no século XX com o surgimento (de novos) e fortalecimento (dos já existentes) meios de comunicação de massa. Atualmente, vivemos inseridos no sistema capitalista que impõe um modelo de globalização neoliberal, e mesmo os países considerados industrializados porém não capitalistas seguem este modelo (ainda que somente por via de efeitos indiretos). Portanto, o universo da cultura acaba sendo atingido, ou melhor, está também inserido nesta esfera globalizada.
Se pensarmos na divisão de Marx entre estrutura e superestrutura, podemos dizer que somos diretamente afetados pela indústria cultural em ambas as instâncias da organização social. Neste sentido, podemos afirmar que somos um produto direto da indústria cultural. No âmbito da produção, vivendo em uma sociedade industrializada, é praticamente impossível não fazer parte ao menos do processo final da industrialização, que é o consumo. Quando compramos um jornal, lemos um livro, ouvimos um cd ou vamos ao cinema, estamos participando e ativando os dispositivos da indústria cultual, mesmo sem se dar conta disto. Por outro lado, no âmbito dos produtos (considerando-se, principalmente, os conteúdos culturais), acabamos absorvendo e vivenciando valores que, por meio da cultura, tornam-se “naturais” e, portanto, perfeitamente aceitáveis. É neste âmbito que a atuação da indústria cultural, através da ideologia, realiza-se de modo mais intenso e mais perigoso. Embora seja um conjunto de abstrações – ou exatamente por isso –, a ideologia dominante gerada pela indústria cultual cria um modo de viver e pensar a realidade que passa a ser aceito pela grande maioria das pessoas de forma passiva e sem questionamento. É como a mão aceitando a luva que lhe dão. O problema maior é que, hoje, a luva é do tamanho do mundo, e já somos vestidos no momento em que nascemos. Como viver fora dos valores da indústria cultural?
No entanto, a constatação e a consciência crítica desta realidade social e existencial que vivemos podem transformar-se em um olhar que, mesmo encerrado no sistema imposto pela indústria cultural, abra perspectivas de questionamento e atuação. É neste sentido que podemos dizer que não somos um produto da indústria cultural. Na medida em que temos o poder de escolha e exercemos conscientemente este poder, deixamos de ser simples marionetes nas mãos da grande abstração chamada sistema para nos tornar seres responsáveis pela nossa existência e por nossas escolhas, ainda que inseridas no contexto maior da indústria cultural (isto significa que talvez nossas opções estejam limitadas a escolher entre um produto e outro). Conhecer a realidade e o funcionamento desta indústria e buscar novas formas alternativas de criar e agir dentro dela, ou apesar dela, são os modos possíveis de não vivermos apenas como mais um de seus produtos.
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Lendo A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, e 1984, de George Orwell, percebi que talvez as coisas ainda pudessem ser bem piores... e que as discussões com o JB (João Batista, o professor-filósofo das Teorias da Comunicação) ganharam novos sentidos...
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