quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Pasquim

Pasquim: jornal crítico ou calunioso, geralmente impresso de forma simples; jornal de má qualidade, jornaleco; escrito satírico afixado em local público. Estas são as definições do Dicionário Aulete. Mas se você juntar Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo, Sérgio Cabral, Sérgio Augusto, Fortuna, Luiz Carlos Maciel, Ivan Lessa, Henfil, Tarso de Castro, Paulo Francis, entre outros (incluindo aqui os colaboradores eventuais, como Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Rubem Braga, Glauber Rocha, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Fonseca, Caetano Veloso...), vai saber o que realmente significa O Pasquim. Um grupo de jornalistas, escritores, cartunistas e humoristas se reúne no final dos anos 60, em pleno regime militar, para fazer um jornal de oposição. A principal arma: o humor.
O primeiro volume de O Pasquim - Antologia (ao todo, foram publicado três volumes, organizados por Sérgio Augusto e Jaguar) traz o que de melhor foi produzido durante os dois primeiros anos do jornal (e é tanta coisa boa que fica difícil escolher o que citar para dar ideia da insanidade criativa da famosa patota). Na introdução, Sérgio Augusto explica o que foi O Pasquim:

"Foi o maior fenômeno editorial da imprensa brasileira. E não adianta discutir. O Cruzeiro? Tinha atrás de si uma poderosa empresa jornalística, os Diários Associados de Assis Chateubriand. Veja? Ora, veja. Com a editora Abril bancando a aventura, modéstia à parte, até eu. Atrás de O Pasquim, só havia um punhado de porras-loucas.
Assumidamente nanico, moleque, paroquial e abusado, nasceu sob a suspeita de que duraria pouco tempo; menos até que os oito números da Pif-Paf, criada em 1964 por Millôr Fernandes e inviabilizada pela censura dos milicos que naquele ano haviam assumido o poder. Mas durou, afinal, 1072 números - o equivalente a 22 anos de vida.
As suspeitas iniciais tinham razão de ser. Onde já se viu um jornal sem patrão, onde todos os colaboradores podiam escrever o que bem entendessem e como bem entendessem? Pois a velha utopia de dez em cada dez jornalistas revelou-se, mais do que factível, um sucesso - fulminante e retumbante. A tal ponto que o cético Millôr, que no primeiro número previra menos de três meses de vida para o solerte hebdomadário, admitiu, já no quarto número, que se equivocara.
(...) Foi, sem dúvida, um risco; quase uma bravata. Entre setembro de 1968, quando a ideia do jornal não era mais que um brilho nos olhos de Jaguar e Tarso de Castro, e 26 de junho de 1969, quando o primeiro número chegou às bancas, os generais haviam 'legalizado' a ditadura com o AI-5 e a censura apertara as cravelhas nas redações menos dóceis ao novo regime. O Pasquim não pagou barato pela audácia de já nascer 'do contra' (sobretudo contra as babaquices da classe média) e 'livre como um táxi', 'equilibrado como um pingente', 'incômodo como um folião num velório'. E ainda que nos primeiros tempos fosse mais folgazão, gozador, festivo (a expressão 'esquerda festiva' foi inventada por um dos seus colaboradores, Carlos Leonam) e atento a questões de comportamento, aos poucos deixou-se contaminar pelo inevitável: a indignação política. Sem, contudo, abrir mão do velho preceito de Horácio (reciclado poe Jean de Santeuil): o riso é a melhor arma contra todas as imposturas."


Segue um documentário realizado pela TV Câmara sobre a história do jornal:


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