Cinco contra o mundo
(Cameron Crowe)
Existem dois Eddie Vedders. Um é quieto, tímido, quase inaudível quando fala. Amando e sendo amado. O outro é torturado, um realista amargo, um homem capaz de apontar injustiça e agitar a guerra dentro do próprio país, dentro dele mesmo. Em um dia de primavera, quente e com vento, em San Rafael, Califórnia, é fácil ver qual Eddie Vedder está acertando cestas fora do Site, o estúdio de gravação onde o Pearl Jam está finalizando seu segundo álbum. É o Eddie torturado, aquele com um vinco profundo entre as sobrancelhas.
“Sua vez”, chama Jeff Ament, o baixista do grupo. Ele lança a bola para Vedder, que dá um longo salto. A bola retumba na cesta e rola para longe. Quando Ament recupera a bola, Vedder já desapareceu dentro do estúdio. Sua mente está numa nova música, “Rearviewmirror”. É o último dia de gravação no Site, e o destino da faixa está em perigo. É uma música sobre suicídio... mas é muito “contagiante”.
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Sentado num café no centro de Seattle, algumas semanas depois, Stone Gossard analisa a natureza inflamável da banda. "Acho que estamos indo bem", ele diz, no ritmo cortado de um atleta. "Acho que fizemos um grande álbum. Ninguém aqui está comprando limousines e se achando a melhor banda do mundo. Existe um equilíbrio natural na banda onde cada um precisa do outro. Cada um vê as coisas do seu próprio ângulo, e todos os ângulos são os arquétipos das coisas que você precisa para ter cobertura".
E ele conhece as críticas sobre o sucesso do Pearl Jam. "Se alguém quer dizer 'Vocês eram minha banda favorita, mas ficaram muito grande' - para mim, o problema em ficar muito grande não é, intrinsecamente, ficar muito grande e de repente parar de tocar música boa", diz Gossard. "O problema é que quando você fica muito grande, você para de fazer as coisas que costumava fazer. Apenas ser grande não significa que você não pode ir para o porão e escrever uma boa canção. Acho que as pessoas são capazes de ser bem maior numa escala radical". Ele ri. "Muitas pessoas por aí são capazes de ser grandes, mas não se dão a chance".
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Até cerca de um mês antes do lançamento, o álbum ia se chamar Five Against One. O nome surge durante uma reunião num quarto de hotel em Roma, enquanto a banda aprova a mixagem final do disco. Já existem interferências da gravadora. Dá pra aumentar os vocais do Eddie? E tem a questão do vídeo. Podemos decidir sobre o diretor? E as entrevistas para a impressa. Vocês precisam fazer algumas. As respostas para as perguntas são Na verdade não, Não e Depois. Decisões rodopiam em torno deles a toda hora, mas o Pearl Jam quer fazer do seu próprio jeito. O título do álbum parece apropriado. A frase surge de uma nova música, "Animal".
"Para mim, esse título representa muitas lutas que você enfrenta ao gravar um disco", diz Gossard, que escolheu a frase. "Sua própria independência - sua prória alma - contra todo o resto. Nessa banda, e eu acho que no rock em geral, a arte de se comprometer é quase tão importante quanto a arte da expressão individual. Você pode ter cinco grandes artistas na banda, mas se eles não podem se comprometer e trabalhar juntos, você não tem uma grande banda. Pode significar algo completamente diferente para o Eddie. Mas quando escuto aquela letra, faz muito sentido pra mim."
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E por falar em Rolling Stone e Cameron Crowe, não dá pra não lembrar de Quase Famosos, filme que conta a história do próprio diretor, quando, ainda adolescente, começou a escrever para a revista.
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